"Faz-me querer o que Tu queres"
Este título é um verso de um daqueles cânticos em que letra e melodia conjugadas fazem aquilo que dizem e propiciam (ainda que apenas durante o tempo em que os canto) aquilo que pedem. Proferir estas palavras ou cantá-las é receber a força que me soergue em face do que se me afigura equívoco, humilhação, derrota, uma força que é ao mesmo tempo a causa e o efeito de encarar tudo isto como inerente ao caminho, porventura necessário (ou não fosse o eu superficial, centrado em si mesmo, que é ferido, esmagado, aniquilado).
Estas coisas, diz o Viandante, "dirigem-nos na direcção que espera por nós" e os retrocessos e enganos são "passos na direcção certa": "Todos os caminhos fazem parte do caminho".
É reconfortante este reconhecimento de que não há retrocessos nem enganos, apenas experiências penosas, ou mesmo dolorosas, que, em contraste com a amenidade deleitosa dos primeiros passos, quase induzem a pensar em queda. Teresa d'Ávila parece-me muito dura a este respeito quando diz que, quando tal acontece, melhor seria não se ter nunca começado.
Não me tinha consciencializado de que quando canto as palavras "faz-me querer o que Tu queres" é à vontade própria que renuncio e é a liberdade plena que peço. Diz-mo o Viandante: "renunciar à vontade própria é abrir-se ao que não tem limites". E anuncia: "Seja feita a Vossa vontade, foi isto que o Cristo veio dizer aos homens. Dito de outra maneira: sede livres".
Será que o Viandante me autorizaria a inserir aqui um "link"? Adiante de mim, no caminho que, seguindo-o, vejo abrir-se-me, ele é também a confirmação de que "o que espera por nós" está sempre connosco e é a direcção do nosso caminhar.
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