quarta-feira, 22 de julho de 2009

Do orgulho

O que aprendi em criança na catequese nunca me "traumatizou" (como se queixam alguns) e muito cedo percebi que o sentido literal do texto bíblico abria a outros sentidos que seriam, no entanto, sempre modos de ler, interpretações, glosas. Lembro-me, porém, no fim de cada ano de catequese, ficar na esperança de que no próximo a "matéria" seria, finalmente, dada, o que nunca aconteceu: quando cheguei ao último volume percebi que o que queria saber teria de o procurar por mim, por via da experiência (de leitura e de vida).
Uma coisa, no entanto, ficou clara desde o princípio: que o orgulho foi e é a origem do mal, o "pecado original" no sentido de primordial. Os "costumes dos homens" (para Traherne a via por que a criança acede ao conhecimento do mal) é nele que assentam. No "mito do Génesis", mesmo entendendo-o à letra, a serpente (o que ela simboliza) não inculpa ninguém e até isto, em si mesmo, louvável, é o orgulho que o dita.
Como escapar-lhe? Só o Espírito Santo, por instantes, o pode fazer em nós. O orgulho priva-nos de Deus enquanto a humildade nos aproxima d'Ele. Mas a verdadeira humildade não acontece sem Ele. Maria calca aos pés a serpente (o orgulho como fonte de todo o mal) no momento em que se Lhe abre inteiramente e o Espírito Santo "desce" ou, com mais propriedade, "acontece". Não surpreende que, no momento em que concebe Deus, entoe o magnificat: "porque olhou para a Sua humilde serva".