domingo, 21 de março de 2010

"Das Losungs Wort ist Lieb"

Uma casa, a minha casa, situe-a eu no mundo dito exterior ou aqui, feita de palavra e de silêncio, tem necessariamente diferentes divisões. No entanto estão todas ligadas e circulo por elas livremente. Deixo mesmos marcas de mim por toda a parte não obstante o esforço de ser organizada. Digamos que reservo uma dessas divisões - o "coração da casa" - para o que me é dado de bom e de belo e sempre que posso vou até lá simplesmente para fruir esse espaço e lá deixar uma flor, uma concha, um seixo, ou mesmo uma dessas pedras escuras que têm dentro o Sol. A "palavra-passe" é conhecida de toda a gente. Já Angelus Silesius a apontava (C.W.: 6, 204):

Das Losungs Wort ist Lieb: hastu's nicht eingenommen /
So darffstu nimmermehr ans Himmels Gräntzen kommen.

(Trad. A palavra-passe é Amor: se não a tens contigo / nunca poderás chegar à fronteira do Céu

Este "espaço" é para mim de fronteira com o Céu e o que faz o Céu é essa "Sua alegria" que Ele quis que nossa fosse também, ou essa "Vida" que Ele quis que tivéssemos "em abundância", ou essa "Paz" que só Ele nos pode dar, ou esse "Caminho" que é Ele mesmo, ou não fosse Ele mesmo a Verdade que se manifesta nesta "Alegria" , nesta Vida, nesta Paz, neste Caminho. E no bem. E na beleza.

Não se trata de conceitos abstractos, mas de tudo aquilo que, tocado pelas Suas mãos ou envolvido no Seu olhar, nos enche dessa Alegria, dessa Vida, dessa Verdade, desse Bem, dessa Beleza, dessa Paz. Pode acontecer com a flor lilás que me aparece nas mãos vazias para Ele abertas. Pode acontecer com o poema que, quase do mesmo modo, vejo diante de mim. E assim me vai sendo revelada a natureza desse "mais" que tão acima da flor coloca o poema. Se não fosse para conhecer esse "mais", para que viríamos aqui, lá tendo tudo?