sábado, 13 de março de 2010

oblivion e rapture

Vou mesmo aguardar, no desejo de que seja o Seu o meu desejo, a nova reconfiguração das contas luminosas resistindo à tentação da trama narrativa. Se o "acontecimento", por definição inenarrável sob pena de imediata redução a "facto", lhes é intrínseco, com ele (o acontecimento) lhes é também intrínseca a dinâmica em que sempre esta redução ocorre, nas formas que cria. Resistir-lhe parece-me, porém, não só inútil como contra-natura, um esforço criador da "totalidade" que nega, essa totalidade definida pela própria inexistência, indutora, porém, na afirmação do "não ser" como essência do ser, do desejo desta mesma "essencialidade". Se chamar a este desejo "wish", chamarei "desire" ao desejo do todo ("wholeness") em que a "essencialidade" é a relação. Momentos em que o "não ser" rompe o tecido do ser, "oblivion" e "rapture", "hole" e "whole" em que o eu se perde num regresso a que uns e outros chamam, negando-a ou afirmando-a, "Source". Sempre senti numa perspectiva ou noutra a intensa impressão de "falta".
Esta reflexão confirma-me o advertimento dos místicos ocidentais relativamente ao perigo de colocar "rapture" como objecto de "desire". Precisaria de uma outra palavra para o que, no início, chamei "o Seu desejo". Traherne utiliza "want", "His want", a um tempo desejo e falta, a falta que me dá a suprir no meu anseio? Nem "oblivion", nem "rapture", o anseio das "águas vivas" para a corça, ou do Amado para a "amada". Onde, então, se não n' Ele por Ele e com Ele subsistem conciliados desejo e realização?