do monte Tabor ao poema 77
Hoje o Evangelho foi a transfiguração no monte Tabor. É um daqueles passos em que mais pressinto, pela inutilidade de qualquer esforço de aproximação da compreensão, que não seremos nós que nos aproximamos dela, antes é "ela" que de nós se aproxima e porventura nos "toca".
Os místicos falam de "iluminação" quando, por gratuito dom divino, nela se perdem de si mesmos, cegos da imensa luz em que nada apreenderam senão que "lá estiveram" (sem que possam saber "onde" ou "quando"). Serão tais momentos da natureza da "demasiada realidade" que "o género humano não pode suportar"? Eliot reitera na voz do pássaro o perigo que Rilke vê na demasiada aproximação do anjo. Porém, o "toque" subtilíssimo, como um aflorar da pele, que estremece de alegria e espanto, é já evidência bastante de que o que nos toca quando tocados pela "compreensão" é da natureza do amor que "lança fora o temor". E que outro amor senão esse nos move a prosseguir?
No poema "A tua mão" não são ecos de outros textos que acolho para a seguir os descartar, (como tenho feito) na atracção do esplendor do poema despojado de todas essas vestes que ,por belas ou preciosas que sejam, sempre estarão a mais (colocarei no outro blogue um post com um poema de Traherne sobre o corpo nu).
É à pura atracção desse esplendor que me entrego flutuando ao vento sem resistência como a lágrima ou a folha que cai, no doce desejo de tocar no ser tocada. Wonder and delight. Pura fruição do poema, de que as palavras, sílaba a sílaba despidas, dão a sentir o corpo, que, se delas se forma na sua mais completa nudez, também as transcende na tríade em que o poema acontece. E com ele e nele a luz, o vento, as lágrimas, as folhas que caem E essa mão que se dá.
Deparo-me sempre com o mistério dos dois infinitos que no poema se tocam tocados pela compreensão. Será dela esta mão "aberta e pura / tão leve / e tão nua"?
Em vez do link transcrevo o tão belo, tão leve e suave, poema 77 do Viandante, "A tua mão", na sua perfeita e resplandecente nudez:
"a luz nesse flanco
ilumina
o ritmo
com que despes
as palavras
sílaba a sílaba
oiço-lhes o vento
e em cada lágrima
cai uma folha
onde flutua
a tua mão
aberta e pura
tão leve
e tão nua"
Os místicos falam de "iluminação" quando, por gratuito dom divino, nela se perdem de si mesmos, cegos da imensa luz em que nada apreenderam senão que "lá estiveram" (sem que possam saber "onde" ou "quando"). Serão tais momentos da natureza da "demasiada realidade" que "o género humano não pode suportar"? Eliot reitera na voz do pássaro o perigo que Rilke vê na demasiada aproximação do anjo. Porém, o "toque" subtilíssimo, como um aflorar da pele, que estremece de alegria e espanto, é já evidência bastante de que o que nos toca quando tocados pela "compreensão" é da natureza do amor que "lança fora o temor". E que outro amor senão esse nos move a prosseguir?
No poema "A tua mão" não são ecos de outros textos que acolho para a seguir os descartar, (como tenho feito) na atracção do esplendor do poema despojado de todas essas vestes que ,por belas ou preciosas que sejam, sempre estarão a mais (colocarei no outro blogue um post com um poema de Traherne sobre o corpo nu).
É à pura atracção desse esplendor que me entrego flutuando ao vento sem resistência como a lágrima ou a folha que cai, no doce desejo de tocar no ser tocada. Wonder and delight. Pura fruição do poema, de que as palavras, sílaba a sílaba despidas, dão a sentir o corpo, que, se delas se forma na sua mais completa nudez, também as transcende na tríade em que o poema acontece. E com ele e nele a luz, o vento, as lágrimas, as folhas que caem E essa mão que se dá.
Deparo-me sempre com o mistério dos dois infinitos que no poema se tocam tocados pela compreensão. Será dela esta mão "aberta e pura / tão leve / e tão nua"?
Em vez do link transcrevo o tão belo, tão leve e suave, poema 77 do Viandante, "A tua mão", na sua perfeita e resplandecente nudez:
"a luz nesse flanco
ilumina
o ritmo
com que despes
as palavras
sílaba a sílaba
oiço-lhes o vento
e em cada lágrima
cai uma folha
onde flutua
a tua mão
aberta e pura
tão leve
e tão nua"
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