sexta-feira, 19 de março de 2010

"I am a strange loop"

Ainda não passei das primeiras páginas de I am a strange loop, mas já posso dizer que a componente interpessoal do registo produz em mim o movimento a que tenho chamado "recapitular" e que me parece muito próximo do que levou o autor, Douglas Hofstadter, a usar o termo "loop" para com ele identificar "isto" a que chamamos "eu". Um loop nunca nos deixa no mesmo sítio e inquestionavelmente é para diante que nos impulsiona num movimento para trás... - já sou eu a "recapitular", claro, e a antecipar-me.
Se é da vida que se trata, diz o autor, de que vida posso falar senão daquela que conheço melhor, portanto, da minha? Assim justifica - e aproveito o ensejo de o fazer também - não só o uso da primeira pessoa, mas também as "histórias" que conta no tom coloquial, familiar mesmo, com que exorciza a inibição do lugar-comum.

Ainda quinta-feira passada escrevi mais uma "história" decorrente de mais uma recapitulação do embate da pedra na superfície da água, da pedra e do seu afundar-se, bem como das ondas geradas. Não se trata de uma outra versão, mas de um ir mais fundo em busca do que a luz não deixa ver (o que logo a muda de lugar).
O que se narra é qualquer coisa irredutível a mero "facto", pois que contempla a "repercussão" do "acontecimento" no "isto" que incessantemente "narra", a si mesmo e/ou ao outro, num esforço de entender e/ou fazer-se entender, e sobretudo na relação que, se nasce desta dinâmica, do mesmo modo a cria.


Falo de "entendimento" como "apreensão" (que se deseja "global") da repercussão do acontecimento, repercussão para a qual (exorcizado o medo do lugar-comum), recuperei a velha metáfora das ondas concêntricas que se formam na superfície de um lago quando se lhe atira uma pedra. Reservo "compreensão" para o Seu olhar envolvente, consciente de que sem Ele a narração não passaria de um monólogo fechado em si mesmo no desespero do rato no labirinto onde a todo o momento encontra por diante uma parede. E é bem triste quando isto acontece.