segunda-feira, 26 de abril de 2010

«Entremos más adentro en la espessura»

Ante cada um destes poemas, ante o que, mais do que o mero fio do tempo, os liga, toma maior consistência este nível de realidade "demasiado real" a que é intrínseca a poeticidade - ou não fosse esta (ou o que esta seja) a mais pura linguagem da criação. Tal a linguagem em que a noite narra ao dia a glória de Deus e aquela em que se expressa o Seu infinito amor, na dor como na alegria de que em absoluto Ele partilha.
Por isso, "contemplação" é, talvez, um termo menos inadequado do que "leitura" quando é desta natureza a linguagem de um poema. Há a considerar níveis superiores àquele em que ficam os linguistas, tal como há a considerar níveis superiores ao desta realidade mais densa em que nos movemos no nosso quotidiano e em que ficam os físicos (não pode senão surpreender-me que os "entendidos", capazes de considerar níveis abaixo, até aos quarks e além, se mostrem incapazes de admitir níveis acima daquele em que são operacionais os seus sentidos e instrumentos).
De um nível superior ao deste nosso "real quotidiano", tal a realidade "demasiado real" do poema. «Entremos más adentro en la espessura». Numa linguagem feita de linguagem expresso o desejo que me move ante a arcada que se me abre sobre insonhados horizontes.