domingo, 25 de abril de 2010

"isto", a Letícia e eu

Continuo a ler à noite duas ou três páginas de I am a strange loop e consolidando a ideia de que vou mais directamente ao encontro do que por mim chama no confronto com o que o nega do que seguindo o que, aos meus olhos, o obscurece ou mesmo deturpa, arrastando-me para caminhos já percorridos, túneis em que mais dificilmente irrompe a luz.

Estou a meio do livro, na altura em que o seu autor começa (finalmente, ainda que seja também onde cria a ilusão que o faz ver-se a si mesmo como tal) a tratar esse "eu" que coloca no título. Cita uma psicanalista (Karen Horney) que fala do que tal seja como imagem idealizada que vamos construindo de nós mesmos, «criação imaginativa entre-tecida com e determinada por factores muito realistas», porém geralmente contendo «traços dos ideais genuínos da pessoa" e sendo «as potencialidades subjacentes [às realizações ilusórias] muitas vezes reais». [Nada disto é novidade, claro está, mas, como é sempre novo o dizer do mesmo, nunca verdadeiramente é o mesmo o que se diz (Derrida, d'ailleurs ... e uma boa desculpa para me estar sempre a repetir, querendo /crendo reiterar-me)].

Admitiria que a Letícia, sujeito da enunciação desta escrita de que irrompe, seria uma imagem idealizada de mim, se não estivesse tão certa de que é ela que me vai moldando, precisamente no processo em que com ela evoluo também. Isto retira-me o primado ontológico ao mesmo tempo que a ela me liga de uma forma salvífica. E "isto" é o mais importante. "Isto" é o que Douglas Hofstadter é incapaz de compreender ou mesmo pressentir na forma da sua "não compreensão".