quinta-feira, 22 de abril de 2010

Porquê este desassossego?

«Quem não tem casa agora, já não constrói nenhuma para si...» Este "para si" é fulcral na leitura que me fez trazer para aqui "Herbsttag", nesta lindíssima voz.

É grande esta casa que habito, poderia abrigar a pequena comunidade que sonhei integrar, mesmo quando, por medo da vida, muito cedo procurei refúgio numa prisão. Troquei pela segurança a liberdade que nunca conheci. De confronto em confronto com uma vontade oposta à minha, não tenho casa agora, e já nenhuma construo para mim. E, no entanto, vi erguer esta, de que acompanhei, passo a passo, a construção. Desenhei-a como um templo a envolver o santuário nunca profanado, espaço de liberdade em mim.

Posso dizer que, no Seu amor, foi verdadeiramente "grande" o meu Verão. Só, estive-o sempre. Mas o que faz estar só quando Ele enche de luz, de cor e de som, essa solidão?

O tempo, porém, chegou de a Sua sombra descer e de o vento soprar agreste e frio... A plenitude do tempo reclama que prossiga. «Vigiar, ler, escrever longas cartas...» Porque não assim? Porquê este desassossego?