quarta-feira, 5 de maio de 2010

"a floresta tardia"

Estes poemas, se os olhar como marcas, sinais, testemunhos que o "outro" deixa no caminho a quem o procure ou siga, permitem-me que fale de "esta poesia" particularizando o conceito de tal maneira que o termo designa apenas este "outro", na sua singularidade e no seu mistério.

Falar de "poesia" é falar de "vida": de "esta vida", que é "este caminho", "esta verdade", "este bem", "este belo", "esta dor", "esta alegria".
Sabemos já sobejamente que quanto mais generalizamos maior a distância que nos separa da compreensão da realidade de tudo isto. Falar de "esta poesia" é falar desta realidade viva, única, irrepetível. Só é possível, naturalmente, falar da experiência da percepção de "isto", sem pretender abarcar tudo, porém sabendo que tudo é abarcado. Olho, assim, "a floresta tardia" na "natureza caligráfica" de que se veste. E é a "floresta tardia" que me silencia e me move a escutar, nas "sílabas indecisas" que das "arvora[das] letras" se formam, "as primeiras palavras / com que o vento / então falava".
Mais não posso senão transpor para aqui o poema que estou de algum modo já a glosar:

"a floresta tardia
veste-se de
natureza caligráfica
arvora letras
sílabas indecisas
as primeiras palavras
com que o vento
então falava"