terça-feira, 12 de janeiro de 2010

"The touch of God"

Comentando The Cloud of Unknowing, C. Wolters fala em "the touch of God" ("o toque de Deus"). Ainda que o termo esteja a ser usado metaforicamente, é, no entanto, o sentido mais "físico", mais "do corpo" que surge envolvido na mais "transempírica" ou "suprasensorial" das experiências. É o verbo "tocar" ("berühren") aquele de que Angelus Silesius se serve para dizer:

GOtt der ist ein Magnet / mein Hertz das ist der Stahl:
Eß kehrt sich stäts nach jhm / wenn ers berührt einmahl.
(C.W.,5:130)

Trad. "Deus é um íman / o meu coração é o aço:
incessantemente para Ele se volta / se Ele uma vez o tocar.

É natural que, como a Traherne, o mistério da atracção magnética o "tocasse" (estou a usar propositadamente o verbo "tocar" num sentido metafórico para fazer ressaltar o sentido literal do seu uso no dístico). Sabendo que o ferro (ou o aço), magnetizado, se torna ele próprio um íman, Silesius levara já (C.W.,3: 132) mais longe a força do símbolo:

Mein Hertze weil es stäts in GOtt gezogen steht /
Und jhn herwieder zeucht / ist Eisen und Magnet.

Trad. "Pois que é para Deus incessantemente atraído /
e de volta O atrai /o meu coração é ferro e é íman".