«let go»
T. Merton encara o desapego das coisas, o «deixá-las ir», como condição de as «ver em perspectiva» e de as «começar a apreciar como elas são». Se, como é consabido, nunca acederemos às coisas em si (somos a cortina que não podemos retirar e ver o que fica), nem por isso deixamos de as poder «apreciar como elas são», ou, nas palavras de Traherne ou Silesius, «na mente de Deus». Da mesma maneira podemos partir da «compreensão» das coisas sem nunca a alcançar. Transcrevo as palavras de T. Morton (traduzir é sempre adicionar uma cortina extra, como se não bastasse a que é cada um interpondo-se entre si mesmo e o que lê):
«We cannot see things in perspective until we cease to hug them to our bosom.When we let go of them we begin to appreciate them as they really are. Only then can we begin to see God in them. Not until we find Him in them can we start on the road of dark contemplation at whose end we shall be able to find them in Him».
«We cannot see things in perspective until we cease to hug them to our bosom.When we let go of them we begin to appreciate them as they really are. Only then can we begin to see God in them. Not until we find Him in them can we start on the road of dark contemplation at whose end we shall be able to find them in Him».
"Coisas" está por tudo aquilo de que, no próprio acto de vermos, fazemos objecto e de que temos de largar mão e «deixar ir» («let go»). Se assim é em relação ao que (por via) de nós vem a este mundo, como não em relação ao que neste mesmo mundo se nos depara e que queremos não perder tanto quanto se nos afigura raro e precioso? Raro e precioso é tudo aquilo que se anima e resplandece sob o Seu sopro, que nada pode prender, nem mesmo o instante em que acontece. Que resta depois?
Talvez a resposta a esta pergunta esteja no fecho a dar ao conto a várias mãos suscitado pela observação do meu pai sobre o velho tronco de carvalho a arder na lareira: «estamos a libertar o sol de há cem anos».Vemo-lo nas brasas e aquecemo-nos ao seu calor, mas não o podemos guardar. Se a criança do conto provou que a sua pedra negra tinha o sol dentro ao lançá-la na fogueira, o certo é que não a encontrou depois entre a cinza quando a quis recuperar. Que poderá significar esta inevitável conclusão no plano da representação simbólica, para além da redução do símbolo a alegoria atribuída que lhe for uma significação?
Ficou ainda o mais importante na citação de Merton que é começarmos a encontrá-lO nas coisas vistas «em perspectiva» para, então, iniciarmos a via da «escura contemplação» que levará a, finalmente, as encontrarmos n' Ele. Thomas Merton enuncia aqui o que me faz sentir esta firme certeza do passo que leva o místico ocidental mais além no caminho da «compreensão» de que parte.
Talvez a resposta a esta pergunta esteja no fecho a dar ao conto a várias mãos suscitado pela observação do meu pai sobre o velho tronco de carvalho a arder na lareira: «estamos a libertar o sol de há cem anos».Vemo-lo nas brasas e aquecemo-nos ao seu calor, mas não o podemos guardar. Se a criança do conto provou que a sua pedra negra tinha o sol dentro ao lançá-la na fogueira, o certo é que não a encontrou depois entre a cinza quando a quis recuperar. Que poderá significar esta inevitável conclusão no plano da representação simbólica, para além da redução do símbolo a alegoria atribuída que lhe for uma significação?
Ficou ainda o mais importante na citação de Merton que é começarmos a encontrá-lO nas coisas vistas «em perspectiva» para, então, iniciarmos a via da «escura contemplação» que levará a, finalmente, as encontrarmos n' Ele. Thomas Merton enuncia aqui o que me faz sentir esta firme certeza do passo que leva o místico ocidental mais além no caminho da «compreensão» de que parte.
0 Comments:
Enviar um comentário
<< Home