terça-feira, 19 de julho de 2011

a dimensão simbólica

Remontando um pouco atrás (na citação que faço de D.H. Lawrence no post anterior) é esta a cena que se desenrola ante o olhar do leitor, mas inquestionavelmente também do autor, enquanto aquele que lhe dá existência no texto e por via dele, mas não só, e não apenas no momento em que passa a leitor da própria escrita, mas no acto em que escrevendo a concebe, ou ela lhe «acontece»:


[...]She looked still at the unicellular shadow that lay within the field of light, under her microscope. It was alive. She saw it move - she saw the bright mist of its ciliary activity, she saw the gleam of its nucleus, as it slid across the plane of light. What then was its will? If it was a conjunction of forces, physical and chemical, what held these forces unified, and for what purpose were they unified?
For what purpose were the incalculable physical and chemical activities nodalised in this shadowy, moving speck under her microscope? What was the will which nodalised them and created the one thing she saw? What was its intention? To be itself? Was its purpose just mechanical and limited to itself?
It intended to be itself. But what self?

As interpretações pertencem agora exclusivamente ao leitor e, nessa medida, em nada podem afectar o texto. Talvez mais importante do que interpretar fosse reconhecer de que forma o texto corta com as relações de causalidade de uma lógica discursiva para penetrar naquela dimensão da realidade a partir da qual protagonizamos significações simbólicas e sem a qual seríamos pouco mais do que aquele conjunto de forças electroquímicas lutando pela própria sobrevivência sobre cuja razão de ser se interroga a personagem de Lawrence. "Realismo e símbolo" - o mesmo é dizer vida e poesia - foi o tema que, então, escolhi entre os propostos, aquele que se prendia com o meu próprio rumo na vida e a que desde sempre esteve ligada a minha experiência de leitura.