quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

"libertando o sol"

É inerente ao símbolo a irredutibilidade à interpretação que o alegoriza (a alegoria é sempre de superfície, enquanto de profundidade é o símbolo em que se fundamenta). Se uma metáfora se lexicaliza ou cai no cliché e, assim, morre, o símbolo em que se sustenta não morre nunca. A partir dele é possível revitalizar a metáfora gasta, como o comprovam muitos epigramas de Angelus Silesius que glosam metáforas bíblicas. Acontece por vezes não se tratar da revitalização de uma metáfora exausta, mas da libertação do símbolo que ela encerra, que então brilha como o sol que se liberta do toro de lenha em que esteve aprisionado.
Os símbolos nos poemas do Viandante são desta natureza: libertos de usos anteriores, brilham com luz própria no caminho que adiante se abre e o que deixam vislumbrar faz que do caminho percorrido um sentido impressentido irrompa em consonância. Seja do ponto de vista de um ou do outro dos "dois infinitos" que neles se tocam, estes poemas são sinais e testemunhos da "aventura" (nos sentidos comum e etimológico do termo) que é a escrita na sua inseparabilidade da vida. Possa ela continuar sempre para todo "o tempo que resta".