"sair de mim" apagando-me
Hoje de manhã olhei para a data no canto inferior direito do monitor e vi 8 em vez de 4 de Setembro. Sem ponderar no quanto era estranho, mesmo no esquecimento do calendário, o tempo "saltar" assim, escrevi um post, que deixei em rascunho, sobre o carácter especial desta data.
Havia, porém, aspectos que queria abordar antes de falar do dia muito apropriadamente escolhido (no séc. VII) para a celebração do nascimento da Virgem, dia que se tornou particularmente importante neste meu percurso de aprendizagem feita por via da descoberta e da revelação (também na vida pessoal de cada um de nós acontece o efeito preceder a causa e instaurarem-se outras ordens de conexão, como a da «sincronicidade», que há tempos referi aqui). Desejaria, pois, que me fosse dado não só o ensejo, mas também aquela disposição de espírito - verdadeiramente de todo o ser - que Traherne descreve como «[being] set in frame» para trazer aqui aqueles aspectos que se me afiguram cruciais no que, se aceitar em paz que a "viagem" é simultaneamente a narrativa que dela faço (e refaço), corresponderá nela ao "plano da realização temática".
Um desses aspectos é o que decorre da posição de "enunciatária oblíqua" face a um "sujeito da enunciação" que, não se me dirigindo directamente, me abre a que o escute. Cada diferente modo de poesia com que me fui deparando deu-me a entrever como destinatária uma silenciosa figura feminina com que me relacionei de muito perto, não sendo o seu silêncio impeditivo de que lhe sentisse a presença e lhe escutasse o que, «feito de silêncio», por vezes aconteceu dar-me que dissesse.
Será que conseguirei trazer cada uma delas aqui? A cada uma atribuirei um nome próprio de algum modo significativo. Serão Maria, Inês, Laura, por esta ordem. Qualquer delas me apaga como eu mesma como se de mim apenas fosse requerida a mediunidade vialibizadora de uma porventura maior aproximação.
Terei encontrado, afinal, uma forma de, em certa medida, sair de mim mesma para me aproximar, por etapas sucessivas, do "outro privilegiado" como aquele, que, na derradeira etapa, n' Ele encontrarei, finalmente à Sua imagem. Serei, então, eu mesma e entoarei, na Sua alegria, as palavras do Cântico dos Cânticos: «Eu sou para o meu Amado e o meu Amado é para mim».
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