sexta-feira, 22 de julho de 2011

"na...und?"

À quoi bon?  (num registo menos próprio, poderia perguntar em alemão: na...und?) Sim, a que  leva esta deambulação por questões que só os teóricos se colocam, unidos no que os opõe: a ligação entre a vida e a escrita, em última análise, entre o mundo dito real e o mundo do texto. Em que é que isto importa para a vida real? -  já me vi muitas vezes confrontada com esta pergunta.
Nada nos é mais "dado" do que a vida, esta vida que dizemos ser a nossa e que se afigura a cada um de uma maneira diferente, de maneira sua. Muito cedo aprendi - e foi com a a minha avó - a olhá-la como dádiva mas também, na sua transitoriedade, como uma passagem por este mundo, passagem que, por um mistério insondável de Deus,  para uns era mais longa e para outros mais curta - assim me explicava ela que o menino da fotografia, que nunca consegui olhar como meu tio, tivesse cá passado doze anos apenas. Se, de início, só a conseguia ver como caminho no espaço, passei a vê-la como caminho no tempo, e, só muito mais tarde, como viagem em dimensões concomitantes da mesma realidade.
Foi com o aprofundamento que a "teoria da literatura" me proporcionou que passei, a certa altura, a olhar a vida-viagem no mundo dito real como a olharia se a estivesse a viver no mundo dito do texto  e a analisá-la como se o fosse. Foi então que tudo se tornou demasiado complexo e me vi neste emaranhado de teias que eu mesma teço e de que não consigo sair, mas em que porfio, certa de que, tudo estando conectado, não é solução ficar pelas separações que a análise estabelece para os seus próprios fins.