«noli me tangere» (2)
Só depois de publicar o último post é que li o Evangelho do dia. Precisamente o passo a que pertencem as palavras que tomei como título. Estas "sincronicidades" são tão frequentes que, pondo de lado outras explicações (como a de Larry Dossey, por exemplo, de quem ando intermitentemente a ler The power of premonitions), posso - e quero - ver nelas um sinal da íntima conexão entre as coisas, muito em especial quando se trata da «via», cada vez mais fulcral para «o tempo que (me) resta».
A "via" é, naturalmente, um símbolo, mas tão poderoso que em si reúne e conecta as experiências de leitura e de vida que se me oferecem (ou me são oferecidas?) nesta «esfera de existência»; um símbolo que me apraz visualizar como um caminho que terei de fazer sozinha, não porque não tenha encontrado outros caminhantes, mas porque nunca o passo é o mesmo para que se tenha tornado possível um caminhar a par. É assim que me encontro agora na esteira de quem avisto adiante sem pretender que se detenha, sem lho pedir, sabendo que o não devo sequer querer. Significativo a este respeito me parece ser o modo como o latim constrói a negativa do imperativo: noli, à letra, "não queiras"... Não, não o vou querer deter, prender ou mesmo tocar (qual âmbito de significação do termo grego traduzido por tangere?)
Caminhando à minha frente, aponta-me Aquele que, desde sempre, vem seguindo; seguindo-o, segui-Lo-ei também, ainda que deixe de ver a estrada e, com ela, o horizonte e tudo o mais em volta. Um Nichts de que emergirá ichts, como o verbalizou A.S. Uma só coisa, diz o "anónimo" que escreveu A Nuvem do não-Saber, pode atravessar esta interposta nuvem. E esta coisa tem um nome, um nome tão puro quanto o coração e os lábios que o pronunciarem. Que o Seu fogo toque os meus para que o possa pronunciar um dia como, sem o ouvir, nos Seus um dia o ouvi. Meço a distância que me faz olhar para trás, na certeza, porém, de que só adiante, como o anseia a minha alma, o poderei voltar a ouvir. Não é um eco que ouço já? O eco que encontra no coração e sobe aos lábios de quem, ouvindo-o, o pronuncia, caminhando adiante. Como não seguir «a voz deste chamamento»?
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