domingo, 31 de julho de 2011

a obra, «suporte (...) de um espírito»


(de F.M. para O Canto da Água)
A luz é que faz o objecto, diz T.T. , sem deixar de ver envolvidos os dois  outros intervenientes, a "materialidade" do objecto (o «suporte», seja qual for a sua natureza) e o olhar do observador. O mesmo será dizer os planos físico, psíquico e espiritual, coexistindo e interpenetrando-se. É de esperar que, com respeito a esta dinâmica "(re)criadora" do que chamamos "realidade", nada basicamente se altere, quando, não falando do olhar e da luz, o "suporte" advier ele mesmo de uma dinâmica da natureza daquela em que, como tal, intervém (e que porventura suscita), tendo sido outros os intervenientes: outra a luz, outro o olhar, outro o suporte.


(da net)
Trouxe aqui estas imagens que me parecem poder ilustrar esta questão, que é, afinal, a que elas mesmas levantam. Um outro olhar, indissociável da luz a que olha, está, num e noutro quadro,  envolvido, «entrelaçado na materialidade» do objecto que criou, confrontando-me (também eu, um olhar indissociável da luz a que olho). 
Quando a «materialidade do objecto» é de natureza verbal, o que há a esperar é que a complexidade envolvida seja muito maior.

Almejando ver unificados, no "plano da viagem", os planos da vida e da escrita / leitura, não pode encontrar maior acolhimento em mim a visão de H.V. (de quem são as citações que faço atrás) a partir, como diz, da recolocação do conceito ricoeuriano de obra ('suporte de um mundo') numa outra perspectiva, nomeadamente a que lhe a dá a ver como «suporte não de um mundo mas de um espírito». Continuo a citar: «entrelaçado à materialidade verbal e técnica da literatura está um dado espírito que se dirige ao espírito do leitor e o confronta».  Luz e olhar são um, no «espírito» que assim se comunica feito palavra. Será heresia atribuir-lhe, antes de mais, e com respeito à «obra», uma reiteração das palavras eucarísticas? Hoc est enim corpus meum. De que natureza é o corpo assim exposto?

Como este post já se alonga, continuarei num outro.