terça-feira, 23 de agosto de 2011

ainda o tema da floresta

O tema da floresta, que tenho vindo a glosar, posso considerá-lo um tema-chave na minha vida, ou não figurasse ela no meu nome e não fosse o nome para mim um símbolo do que houvesse de se me revelar sobre mim mesma na minha relação com o outr /Outro e com o mundo, na sua multidimensionalidade. 

Curiosamente, no nome da minha mãe, "silva" consta duas vezes: vindo-lhe da minha avó (aliado ao "coelho" do meu avô) e do meu pai, em quem tal nome não podia fazer mais sentido. Diria que não podia mesmo ser outro: nascido no  equinócio da primavera - o dia da árvore - e partindo com a queda de todas as folhas, no fim de Novembro, foi silvicultor de corpo, de alma e de espírito, já que eram as árvores - tão intrínsecas à sua bem-amada Gea - que lhe falavam de Deus. Um dia, em Poiares, ficou singularmente surpreendido quando me ouviu cantar, a embalar ao colo a minha última filha, as palavras «quando o Espírito de Deus habita em mim, eu canto / danço /rezo / etc, como David». Perguntou mesmo: «que palavras misteriosas são essas?» Que lhe havia de dizer? Certa de que não estava interessado no que lhe dissesse sobre o Espírito Santo, nada disse, sorri-lhe apenas. 
Conhecedor da floresta como um lenhador ou um guarda florestal (sufocava entre paredes), teria vivido o céu na terra se lhe tivesse sido dado, como a estes, fazer da floresta morada, habitando uma daquelas casinhas que lhes são atribuídas - ou lá tivesse uma cabana como a do Heidegger (os filósofos não faziam parte das suas leituras que, nos últimos anos, quase já só se circunscreviam à física quântica, na ânsia de lá encontrar a resposta que não encontrava neles). A doação que lhe fez a minha tia-avó de um pedacinho do que também lhe vinha de uma tia, em Poiares, permitiu-lhe realizar um pouco deste sonho. Percorrendo o país de norte a sul (era-lhe sempre dado serviço externo), era ali que fazia poiso. E lá plantou centenas de árvores, de muitas espécies, formando pequenos bosques. Diria que ergueu ali o seu mosteiro, inquestionavelmente, o seu lugar de oração.
Desejaria que estivesse nas minhas mãos dar-lhe continuidade, na forma de um lugar de retiro, aberto, porém, a todo aquele que, na via, o busque neste espírito, o mesmo é dizer, que o Espírito lá envie.
A foto é tirada num dos seus "micro-bosques", de onde se vê a capela (no terreno para ela cedido em tempos idos pela minha tia-avó)