«the soul, which is individuated spirit, is the real 'me' »
É, evidentemente, a «questão do eu» que assombra estas minhas deambulações em torno da problemática do "autor e da obra" ou, quando é verbal o «suporte» desta, da ligação entre a vida e a escrita.
Ainda no que toca "o autor e a obra', estou ciente de que, uma vez cortado o "cordão umbilical" (pelo decorrer do tempo? pela publicação?), o autor se vê leitor da sua própria escrita. Até que ponto diferirá, porém, esta experiência de leitura da que fará da própria vida? Há, naturalmente, que contar com a mais ou menos clara consciência que tenha do processo (nomeadamente, como «recapitulação», com o que isto envolve). Poder-se-á dizer que toda a leitura (descarto, obviamente, a que se faz por lazer) pressupõe um desejo de compreensão, sendo de esperar que este desejo leve à busca de sentido, busca que pode assumir muitas formas, desde a pura recepção contemplativa de nada buscar (à maneira do passeio pelo bosque do poema-símbolo "Gefunden" de Goethe) a todo um esforço de «re(des)construção» de sentidos.
Interrogo-me, face a um poema que me eleva a um outro plano de consciência, como o encarará o seu autor. Será que a experiência se assemelhará à que nos propiciam aqueles sonhos "especiais" que ficam gravados (escritos?) na memória e que, com o tempo, mais ganham em brilho e beleza por força do símbolo a que dão corpo?
Mas será o que digo generalizável a qualquer poema de qualquer autor? Parece-me inquestionável que não, de maneira nenhuma. Retomando a analogia, muitos são os autores cujas obras se podem comparar com os sonhos meramente "funcionais", confinados ao plano físico e psicológico do "eu", cortada a ligação com os planos superiores de consciência.
Pelo contrário, certas obras, nomeadamente certos poemas, diria irromperem - ou sobrevirem - do que encaro como o «verdadeiro eu» do autor, a sua «alma» , no entendimento proposto no livro que tenho em mãos (Putting on the Mind of Christ), de «espírito individualizado" - «the soul, which is individuated spirit, is the real 'me' ». Não recuso, porém, a visão de que é o poema que, suspendendo o «contacto real», «cria o espaço para um novo desejo» (citando agora e de novo H.V.), «uma nova emergência de eros», que «se consuma na união dos espíritos».
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