quinta-feira, 1 de setembro de 2011

"omen"

Esta imagem surgiu numa fotografia que tirei a um quadro em que um vidro protegia o desenho carinhosamente emoldurado pela minha mãe (muito valorizava ela estas nossas ofertas, mesmo quando deixámos de ser crianças e a «tarde (em pleno)» se começou a tornar «ocaso». As aspas devem-se ao facto de serem os nomes com que intitulou os álbuns em que, com a disciplina que a caracterizava - ordenou, numa sequência cronológica, os testemunhos fotográficos de toda uma vida.  Diria que só pelo correr do tempo a via como percurso, caminhada no sentido do envelhecimento e da morte, e não caminho de maturação espiritual, de gestação da «nova criatura» a dar à luz na hora aprazada.  De tão contrário ao meu próprio sentir, o seu saudosismo da juventude perdida nunca encontrou eco em mim.
Esta imagem é anterior ao sonho que tive, pouco tempo após a sua partida, em que, consumida num incêndio, da casa de Poiares restavam ruínas fumegantes, a céu aberto. Na altura, achei singular. Agora dou-lhe como título a palavra inglesa "omen" ("presságio" não diz o mesmo). O desenho original (que só teria conseguido fotografar se me tivesse dado ao trabalho de retirar o vidro) representa, num fundo neutro (não o interior de um quarto), uma árvore nua, caída por terra, de que as raízes tomam a vez dos ramos no gesto de erguerem ao céu as mãos despidas.