terça-feira, 6 de setembro de 2011

uma casa na floresta


A "casa" não é necessariamente o espaço físico que ela ocupa, por isso, mesmo com descontinuidades e "saltos" neste plano de existência, ela persistirá num outro. Se vejo envolto numa luz dourada um tempo em que o espaço físico da "casa" se mantinha o mesmo ao longo das gerações, tenho consciência de que serão os meus olhos que a projectam como aura de um símbolo. 
«Entra, se vens com Deus», reza o azulejo azul que a minha tia-avó colocou diante de quem entrasse pelo portão. Ela é, de algum modo, agora - como sempre o foi -  aquela casa. Sempre, ao ler estas palavras, era da sua boca que as ouvia, saudando e acolhendo quem chegasse. Agora é como se a própria casa as proferisse. Num outro, uma quadra termina assim: «amigos, a casa é vossa, ainda que lhe chameis minha».
O quartinho da "varanda", em que se abre esta janela, passou a ser um lugar de oração não só em sua memória, mas na de todos os que estiveram ligados a este lugar e por um tempo o habitaram ou o fruíram como retiro, mesmo quando a floresta, que em tempos idos o isolava do mundo, recuando, o deixou a descoberto, exposto a quem passe na estrada.  Térrea, quando a abriram, esta assim permaneceu longos anos até acabar asfaltada, como é hoje. 
A norte, porém, a nova floresta - por metonímia, dada a sua diminuta área -  é promessa de o voltar a abrigar no seu puro seio. A Sul, em redor da velha tília, a outra estende-lhe os braços, na ânsia do desejado encontro.


Se não houver de acontecer,  outra coisa, sem dúvida melhor, Ele prodigalizará.