voltando à metáfora: xy e a lateralidade cerebral
Na metáfora de D. Bohm, ao puxarmos por um fio da «ordem implicada» não só vêm com ele muitos outros do todo a que pretendemos arrancá-lo para o podermos observar na «ordem explicada», como a maior parte se quebra, só vindo à tona os mais fortes e os mais superficiais.
Talvez, tomando agora a metáfora da lateralidade cerebral, haja uma desistência da parte do hemisfério direito que se queda na contemplação da imensa complexidade pressentida (uma como que entrega ou abandono ao espanto, temeroso ou maravilhado, sem respostas e, portanto, sem perguntas), enquanto o esquerdo interroga, inquire, investiga, quase sempre a partir da resposta que antecipa. Alguns usam esta metáfora dita científica (não será só uma questão de linguagem?) na explicação do diferente pendor do pensamento dito oriental, orientado para o todo, e o pensamento dito ocidental, orientado para o fragmento, para o fio que puxa, estracinhando a quase totalidade dos que lhe estão ligados. Levada a analogia ao extremo, tudo estando ligado a tudo, se assim não fosse, seria a própria totalidade que viria à superfície (ao encontro da metáfora do mar numa gota de água dos nossos místicos ou da fiada de pérolas em que cada uma reflecte em si todas as outras do misticismo oriental). Que fazer? Bohm, ao fim e ao cabo, advoga o que, na metáfora dos hemisférios cerebrais, equivaleria a dar a prioridade ao direito, para, a partir da sua abertura à impossível «compreensão», o esquerdo partir desta como dado assente (a impossibilidade de compreender a totalidade mais evidencia a sua suprema relevância), contando, na observação, com o "espaço" conferível ao que não foi trazido à tona.
É difícil resistir à sedução das relações que, sempre dentro do metafórico, se oferecem nesta perspectiva. Dir-se-ia que o próprio homem - xy - cumprirá tanto mais perfeitamente a sua essência quanto mais perfeita for nele a conjugação do que nele é x e do que nele é y, tal como da conjugação perfeita dos dois hemisférios resulta o poeta-filósofo que não desdenha tomar da enxada e trabalhar a terra ou tomar da palavra e ensinar multidões (ainda que reduzidas a um ou dois).
Não dissimulo que vejo em Jesus «o arquétipo» da perfeição masculina.
Fica, naturalmente, a pergunta: e o que se passa no que diz respeito à mulher, se biologicamente não tem y? Esta pergunta faz-me pensar nos sistemas de equações, que se resolviam sempre "em ordem a x" (podendo, obviamente, resolver-se do mesmo modo em ordem a y), que ficava à espera enquanto y se envolvia na dança do cálculo.
Os biólogos, como observei num post anterior, parecem "andar às aranhas" com as descobertas feitas (felizmente parece ser como andam, cada vez mais, os homens ditos "de ciência" nas respectivos «habitáculos»). O desenvolvimento que é agora feito da metáfora xy /xx é muito mais complexo e as possibilidades de interpretação simbólica multiplicam-se no terreno virgem recém-aberto. Ainda bem.
Tenho, naturalmente, uma desproporcionada preferência pelas metáforas da linguagem e pela «simbólica que se inscreve nos mitos».
Deixarei o que se me propuser dizer para um novo post, já que este se está a alongar demais.
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