Etiquetas: carpe diem, Deus, ética, solidão, transempírico
terça-feira, 24 de março de 2009
sábado, 21 de março de 2009
"A naked intention directed to God... If you want this intention summed up in a word, ...take a short word... fix this word fast to your heart, so that it is always there come what may. (...) With this word you will suppress all thought under the cloud of forgetting. So much so that if ever you are tempted to think what it is that you are seeking, this one word will be sufficient answer. And if you would go on to think learnedly about the significance and analysis of that same word, tell yourself that you will have it whole, and not in bits and pieces.
(The Cloud of Unknowing, trad. para Modern English de Clifton Wolters, 1978, pp. 69-70)
Etiquetas: inteiro, nuvem do não saber, palavra sagrada
sexta-feira, 20 de março de 2009
Ainda aqui estou e caminho. Avanço, sem dúvida. Olhando para trás, os desvios desaparecem num rasto branco, como o que deixa um navio. Olhando esse rasto diria que quem vai ao leme segue um rumo, como se visse abrir-se-lhe adiante uma estrada no mar.
É isto que me faz pensar que não sou eu o "homem do leme". Ou não sou só eu. "Eu e mais que eu", dizia-me outro caminhante como eu . Gostei desta sua formulação para o que nos ia sendo revelado, enquanto subíamos a encosta, cada um pelo seu lado, movidos por diferentes pulsões, mas re-encontrando-nos muitas vezes.
Dizia já lá ter estado, no cimo da montanha, e até acreditava que a descia ao encontro dos homens, lá em baixo no vale. Nunca gostei muito desta sua vertente "iluminada". (Um só é o Mestre.... falo disto no ponto 7 do meu outro blogue).
Muito se fala agora por aí da importância da auto-estima (a substituir o velho "amor-próprio"), mas fica tão aquém o sentido que se lhe "inventa", tão aquém do infinito alcance do amar-se a si mesmo. É que se esquece quase sempre o essencial.
Falando na primeira pessoa (para evitar o tom de ensinamento a que sou adversa) direi que o "eu" que amo em mim é o "mais que eu", a que não vejo razão para não chamar "eu interior", como S.Paulo. Conhece os meus erros, fraquezas e limitações e, todavia, continua a caminhar comigo, mesmo quando penso que o afastei de mim (ao dizer "de mim" falo do que é em mim o "eu exterior", superficial, movido por "projectos pessoais de banal felicidade").
O que de maravilhoso daqui advém é que, amando (do mesmo modo que em mim) o que é em ti "mais que tu", do mesmo modo o sei contigo, mesmo quando pensas que o afastaste de ti. Volto-me agora para ti, a quem trago no pensamento. Sim, tu que deixas lá fora Aquele que está à porta e chama e recusas a ceia que te traz. Se O fechas lá fora, como não te hás-de sentir tão só do lado de dentro, ainda que tenhas companhia?
É assim que o meu lago transborda na experiência de um amor que transcende toda a tentativa de classificação.
Longe está da sua compreensão quem o entende como "amor fraterno" quando é a graça divina (gr. kharis) a sua essência. Amor que pode irromper em qualquer forma de amor ou ligação eu-tu (para quê classificar o que temos?)
S. Jerónimo tentou, em lugar de traduzir agapé, encontrar em latim uma palavra mais adequada. E da palavra grega kharis formou a palavra latina charitas, que veio a ser desastrosamente tomada como derivação de carus, com todos os mal-entendidos advenientes.
Etiquetas: amor, auto-estima, eu interior, graça, transbordar
quinta-feira, 19 de março de 2009
Falando dos icones "un discípulo en camino" diz no seu post de 16 de Março:
"Representan siempre a Cristo, la Virgen o los santos en la gloria (por eso el fondo es a menudo de oro) y son considerados casi como un sacramento, en el sentido de que no se limitan a describir al sujeto sino que se proponen ponerlo a uno en contacto espiritual con esa realidad. Son como “ventanas” por las que nos asomamos a la gloria, a la realidad celestial."
Desconhecia esta perspectiva que me dará agora um outro olhar sobre estas imagens que, sem saber ao certo porquê, sempre tiveram para mim um especial fascínio.
terça-feira, 17 de março de 2009
ligações de limiar
Quando a ligação é de limiar entre mundos, já e ainda não, abrindo-se ao Espírito que a toca e fecunda (faço uso dos termos "alma" e "espírito" como intervenientes na tríade corpo-alma-espírito), quando a ligação acontece numa dinâmica de que irrompe aquilo mesmo que a torna trina, essa ligação transcende a relação banal e não há palavra com que a classificar. Chamar-lhe "amor platónico" é reduzir o seu infinito alcance.
domingo, 15 de março de 2009
ainda os anjos-pensamentos
sábado, 14 de março de 2009
thoughts are angels sent abroad
Mais de três séculos passaram sobre a escrita destas palavras. Sujeitas a carregar significados na altura estranhos, libertas dos que seriam na mesma altura óbvios, não deixa de parecer ingénua a imagem que por sua via se traça. Há muito que se banalizaram os anjos de tanto se falar deles. Torna-se cada vez mais difícil fazer-lhes qualquer referência ou alusão.
Envia-me os teus anjos... Formulo assim o pedido a que não dou voz. Um anjo mudo que envio, que por um instante conserva em si toda a energia que lhe comunico, para logo com ela se extinguir sem deixar traço. Se o prendesse à escrita despenderia toda a energia que precisa para se soltar dela e partir... Querem-se autónomos, este anjos. Recuperam a energia despendida com a que recebem lá fora para onde os enviamos. Tornam-se por vezes irreconhecíveis, de outros. Melhores? Piores?
Etiquetas: anjo, escrita, pensamento
quinta-feira, 12 de março de 2009
Viatori
O nome que a ti mesmo te dás e à tua escrita para sempre em espera (aonde me levou o nome de S. João da Cruz) será o que te darei. Peregrino, alma-corpo espiritual, sem dimensão terrena agora. Nesta terias, quando interrompeste a escrita, pouco mais de trinta e sete anos, precisamente como Thomas Traherne, quando tão cedo deixou infinitamente em aberto a sua.
Escolhi a "missa sine nomine" de Palestrina. Pareceu-me adequado à circunstância de te inominares, como o autor de Cloud of Unknowing.
O primeiro movimento foi de tomar Tomás Luís de Victoria. Abri a caixa, mas encontrei-a vazia (tê-lo-ei guardado com um outro, por engano). Era uma missa de requiem (adequada, portanto). Mas também um Magnificat (e o meu maior desejo seria o de poder sustentar o estado de espírito de que irrompem as palavras que anseio voltar a entoar). E era, no fim, a missa "O quam gloriosum" (como acabei por dar, não o querendo, sentido ao que em si mesmo o não tem, vejo configurada uma tríade de mistérios).
Estás aqui ainda, mesmo que já não estejas. Ainda e já não, é apenas a enunciação inversa do "já e ainda não" da "comunicação dos santos"...
Este post foi-me suscitado por um blogue,que me impressionou muitíssimo, de um anónimo que terá deixado (tão cedo) este mundo.
Etiquetas: corpo espiritual, já e ainda não, peregrino, sine aetate
sexta-feira, 6 de março de 2009
seuil
“Statues dressées en limites instauratrices d’un ailleurs qui n’est pas autre part, ils le produisent et le défendent à la fois. Ils forment de leur corps et de leurs textes une frontière qui divise l’espace et transforme leur lecteur en habitant de campagnes ou de faubourgs, loin de l’atopie où ils logent l’essentiel. Ils articulent ainsi une étrangeté de notre propre place, et dond un désir de partir au pays. À mon tour, semblable à l’”homme de la campagne” dans Kafka*, je leur ai demandé d’entrer. Au commencement le gardien répondait: “C’est possible, mais pas maintenant” (…)
“Il (le gardien) est étranger, lui aussi, au pays qu’il trace en marquant un seuil. Faut-il dire la même chose de ces mystiques?
Certeau, Michel de, 1982, la fable mystique, 1. Paris: Gallimard, pp.10-11.
* Franz Kafka, “Devant la loi”, in Oeuvres complètes, Cercle du livre précieux. Gallimard-Tchou, 1964. t.4. pp. 165-166.