sábado, 27 de novembro de 2010

O for the wings of a dove!

Hear my prayer (O for the wings of a dove) - Mendelssohn

terça-feira, 23 de novembro de 2010

God be in my head - Walford Davies.

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Porque hoje é o dia de Santa Cecília...

Herbert Howells - A Hymn to St Cecilia



Lyrics:
A Hymn for St Cecilia
by Ursula Vaughan Williams (1911-2007)

Sing for the morning’s joy, Cecilia, sing,
in words of youth and praises of the Spring,
walk the bright colonnades by fountains’ spray,
and sing as sunlight fills the waking day;
till angels, voyaging in upper air,
pause on a wing and gather the clear sound
into celestial joy, wound and unwound,
a silver chain, or golden as your hair.
Sing for your loves of heaven and of earth,
in words of music, and each word a truth;
marriage of heart and longings that aspire,
a bond of roses, and a ring of fire.
Your summertime grows short and fades away,
terror must gather to a martyr’s death;
but never tremble, the last indrawn breath
remembers music as an echo may.
Through the cold aftermath of centuries,
Cecilia’s music dances in the skies;
lend us a fragment of the immortal air,
that with your choiring angels we may share,
a word to light us thro’ time-fettered night,
water of life, or rose of paradise,
so from the earth another song shall rise
to meet your own in heaven’s long delight.

domingo, 21 de novembro de 2010

Porque hoje se celebra Cristo Rei




Lobe den Herren, den mächtigen König der Ehren
Cantata BWV 137


1 Chœur
Lobe den Herren, den mächtigen König der Ehren,
Loue le Seigneur, le roi tout-puissant de l'honneur,
Meine geliebete Seele, das ist mein Begehren.
Mon âme bien-aimée, c'est mon désir.
Kommet zu Hauf,
Viens rejoindre la foule,
Psalter und Harfen, wacht auf!
Psaltérion et harpes, réveillez-vous !
Lasset die Musicam hören.
Laissez entendre la musique.


2 Air [Alto]
Lobe den Herren, der alles so herrlich regieret,
Loue le Seigneur, qui dirige tout si glorieusement,
Der dich auf Adelers Fittichen sicher geführet,
Qui te mène sûrement sur les ailes de l'aigle,
Der dich erhält,
Qui te soutient,
Wie es dir selber gefällt;
Comme toi-même tu le désires ;
Hast du nicht dieses verspüret?
Ne l'as-tu pas senti ?

sábado, 20 de novembro de 2010

prosseguir?

O perigo de «fazer juízos" tem uma dupla face: posso procurar não fazer juízos do outro, mas não posso evitar que o outro os faça de mim. Na consciência disto mesmo, um perigo me ameaça e perturba, que é o de me preocupar com os juízos que o outro possa fazer de mim («Que se te dá os outros?», diz-me essa outra parte de mim que se assume meu guia). E não só esses juízos me preocupam como eu própria lhes dou forma. Chego mesmo a admitir, esgotadas outras possibilidades, a intromissão do mal na forma daqueles seres da sombra, almas feias, sujas e perversas, que contaminam o mundo e parecem ter encontrado na net um habitat favorável. Com Traherne, acredito que existem para que, no contraste, mais resplandeça a beleza feita de luz daqueles em quem a vejo e por isso mesmo «privilegio».

Mesmo acreditando que esses em quem tal beleza brilha permanecem, por isso mesmo, incólumes a tal forma de mal, afligem-me as hipóteses que levanto para explicar o seu afastamento ou  a sua ausência: terei dito ou sugerido, sem o querer, alguma coisa susceptível de ser julgada e considerada condenável?

O «outro privilegiado» é-o no serem consonantes na sua "eleição" as duas partes de mim, unidas na expectativa da irrupção desse "terceiro" salvífico que (quantas vezes o já disse? di-lo-ei mais uma vez...) intervindo como tal na tríade que sustenta, é também e misteriosamente quem a gera. Ambição desmedida a tocar a temeridade? Não bastava Ele? Porquê o mundo? Porquê o outro nesse mundo? Porquê, quando pensei ter chegado ao fim da viagem, me vi numa nova estrada, antes insonhada, a abrir-se diante de mim no escuro? Algo mais do que essa outra parte de mim que me guia, me fez /faz prosseguir. Insondáveis são, porém, os Seus caminhos. Apenas sabemos que a Ele conduzem.

não julgar

Procuramos razões talvez porque seja da nossa essência procurá-las (não somos «sem porquê» e não tenho a certeza se seria de desejar sê-lo...). Nesta demanda levantamos hipóteses que nos podem levar a juízos assentes em generalizações e sentidos feitos (razões que o «mundo interpretado» nos traz). Tento evitar fazer tais juízos, conhecendo o seu perigo, mas as interrogações levantam-se-me e tomam a forma de hipóteses explicativas que procuro, em vão, afastar. «Nada sei» e não tenho por que saber, diz-me aquela parte de mim que tem o poder de olhar de fora (tivesse ela o poder de olhar do mais de dentro do dentro!).

A canção que coloquei no último post (assim como o tê-la lá colocado) tem um efeito suavizante pela insistência no nada sabermos uns dos outros. Colhemos "dados" com os quais (re)construímos uma "história" em que acreditamos, mesmo sabendo que é precária e que há uma multiplicidade infindável de narrativas possíveis, quantas vezes contraditórias.

domingo, 14 de novembro de 2010

no juzgues




Y tú que sabes,
Qué sabes de mi silencio,
Dime qué sabes,
Qué sabes de mis secretos,
Qué descubres de mi mirada,
Que intuyes de mis palabras
¡Dime qué sabes!

Y tú que sabes,
Qué conoces de mi alegría
Dime qué sabes,
Qué sabes de mi melancolía,
Qué conoces de mi poesía,
Qué intuyes de mi melodía,
¡Tú no sabes nada!

¡No sabes nada!

Entonces por qué me juzgas,
Si no sabes nada.
No sabes nada,
Entonces por qué me juzgas,
Si no sabes nada

Y yo qué sé,
Qué sé yo de tu silencio.
Yo no se nada
No se nada de tus secretos,
No sé nada de tu poesía,
Qué sé yo de tu melancolía,
¡Yo tampoco sé nada!

¡Yo no sé nada!
¡Yo tampoco sé nada!
Entonces por qué te juzgo,
Si yo no sé nada

¡No sabemos nada!

///Entonces por qué nos juzgamos
si ¡no sabemos nada!...
No sabemos nada, no sabemos nada...///

Autora:Glenda Valeska Hernández Aguayo (Parral, Chile, 5 de enero de 1971)

terça-feira, 9 de novembro de 2010

delírio?

O mistério nisto tudo está  (e quanto mais recapitulo, mas claramente o discirno) em os acontecimentos "lá fora" na minha própria vida, cuja ocorrência real (sempre surpreendente) nada tem a ver com a minha vontade) anteciparem as descobertas que a seguir faço na literatura, como se me as apontassem. 

A experiência mais antiga, depois  de o autor anónimo da Cloud se ter feito presença quase palpável durante uma eucaristia, foi com a primeira parte do Livro da Vida de Teresa de Ávila. A narrativa que fizesse assemelhar-se-ia muito à do conto de Poe que mencionei no meu post anterior (The falling of the House of Usher), com a diferença de que agora a vida antecipava a literatura.
Incidentes de ordem adversa no meu local de trabalho (porquê o confronto com criaturas  hediondas que mais se me afiguravam personagens planas de uma farsa?) vieram interromper este "delírio". Que se tratava de um delírio não patológico assegurava-mo a felicidade que sentia e o bem que me trazia não só espiritualmente, mas também física e psiquicamente. Algo se manifestaria exteriormente pois que atraía à minha volta alguns dos que, como o vim mais tarde a ler em Centuries (no passo que coloquei no blogue que lhe dedico),Traherne chama «beginners and desirers».

Foi neste contexto que conheci o que era então o Renovamento Carismático. O que acontecera na Inglaterra seiscentista de semelhante, conforme o descobri pouco depois, fez-me adoptar o princípio da joeira: soprar o debulho e guardar o grão. Com o tempo o grão tem vindo a escassear e na joeira só encontro palha. O que terá acontecido?


coming true giving rise to wishful thinking

Há muito tempo, quando por imposições académicas tive de estudar D.H.Lawrence, vi um filme em que a protagonista estava envolvida numa investigação sobre a íntima relação entre a vida e a obra deste autor, acontecendo que, a certa altura, o que averiguava e descobria na literatura ia simultaneamente tendo lugar na sua própria vida. Esta ideia não é, evidentemente, inédita... Quem poderá esquecer Poe e A Queda da Casa de Usher?
Trata-se de um fenómeno que não será incomum ou não o teria vivido eu mesma. Tudo começou quando penetrei mais fundo no estudo dos místicos,  acabando por me centrar em Thomas Traherne (depois de o ter  longo tempo estudado a par de Angelus Silesius, seu contemporâneo, para finalmente ter sido forçada a optar pela linguística em detrimento dos estudos comparados). 

Não se trata de um wishful thinking coming true, mas de um coming true giving rise to wishful thinking. Um daqueles casos em que os efeitos antecipam as causas? Quando me deparei, na escrita de Gabriela Llansol, pareceu-me de imediato familiar o que estaria porventura subjacente àquele "tu cá-tu lá" com figuras-personagens, porventura tão "vivas" para ela como para mim o são aqueles com quem tão de perto tenho lidado. Ou será tudo aquilo uma mera ilustração de teorias da literatura (que simultaneamente suscita)? Quero crer que não...  mas que importa isso? 

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

a comunhão dos santos

De insondável profundidade é o texto do Evangelho de ontem: Luc 20, 27-38. Tomo a liberdade de extrair um excerto de uma homilia /  reflexão relativa a este Domingo (que encontrei no site Piccolo Rifugio) que me parece um comentário extremamente lúcido:

«Jesus é interpelado de propósito por um grupo de saduceus, com uma provocação de escárnio: "Na outra vida de quem será esposa a mulher que ficou viúva dos sete maridos?". A ironia dos interpelantes também esconde, porém, uma pergunta verdadeira, que todos nós trazemos no nosso íntimo: como será a vida para além da morte? Uma pergunta que todavia corre o risco de se traduzir numa curiosidade (...) É exactamente à nossa curiosidade que Jesus não dá resposta, mas quer acender no coração a verdadeira esperança: a vida vem de Deus, e só em Deus encontrará cumprimento. (...) Jesus não veio para fundar uma nova religião que vai ao encontro de Deus, mas veio para anunciar o ligame profundo de amor que nos liga com Deus Pai. Veio para nos dar aquela comunhão com Ele que nunca e nada poderá desunir. Nem sequer a morte.»

Porquê, mais adiante, a ressalva sobre a linguagem «típica do seu tempo» de Lucia Schiavinato (1900-1976) com respeito à citação, extremamente pertinente, que é feita das suas palavras neste texto? Transcrevo e sublinho essa citação:

«existe uma plenitude de vida em Deus, e na misteriosa mas verdadeira comunhão entre nós em caminho para Deus e quantos com Ele já vivem na plenitude, ou ainda estão purificando o próprio coração para uma comunhão mais plena

Estas palavras, esta linguagem, são de todos os tempos. Sempre senti por parte da igreja instituída um receio tácito, com o consequente silenciamento, do tema da «comunhão dos santos», muito embora constitua um dos artigos do Credo dos Apóstolos. Pergunto mesmo se não terá sido a sua omissão no Credo Niceno uma das razões que levou à sua adopção na missa em substituição do "Credo antigo".

Coloquei no blogue que dedico a Thomas Traherne um passo de Centuries sobre a «comunhão dos santos», palavras que verdadeiramente me suscitam o desejo de vestir a pele da sua enunciatária e com ela acolher estas palavras na expectativa do seu cumprimento neste «tempo que resta», que é o do «já e ainda não».

sábado, 6 de novembro de 2010

The rose

«a rendição desse olhar»

O último poema do Viandante, com o título «Roubo», torna-se denso dos sentido que irrompem na já tão prolongada expectativa do poema a vir / por vir.

«Definha a rosa». Definha com este tempo de espera, a rosa que na continuidade do poema-vida se revitaliza e floresce. «Poema contínuo», direi, apropriando-me da iluminada escolha de H.H. de tal título. 

Nesta espera, adensam-se as sombras do temor que suscitam de que o Verão tenha de alguma forma podido lograr o roubo de que é instituído ameaça. Não que esta estação, chegada ao termo, seja intrínseca à rosa ou ao poema. Intrínseca direi ser a indiciada luta-sedução «dia e noite» travada com «esse olhar» que se rende e na rendição se entrega e abandona.
Grande parece, porém, ser o poder de um Verão que, contra-natura, se quer perpetuado. Suave, no contraste, o do Outono, no seu silencioso chamamento a um incondicional abandono ao que, sem luta, contempla.
Que, nesta luta desigual, seja Sua a vitória.

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Dia de todos os santos

Hoje celebra-se o "Dia de Todos os Santos". O Evangelho da missa de hoje, Mateus 5, 1-12 é conhecido como "sermão das bem-aventuranças". Jesus sobe à montanha e aí proclama felizes os que se santificam na sua passagem por este mundo.

Mais adiante, Mat.5,48, encontramo-las sintetizadas na exortação:  «Sede perfeitos como Deus, vosso Pai celeste, é perfeito». Trata-se de uma orientação a dar à mais poderosa força que nos anima a que chamamos desejo. O desejo de nada desejar é desejo ainda, tanto quanto desejar mais do que tudo, que é desejar o próprio Deus: «Gott über alle Gabe».

Jch bitte dich mein GOtt zwar offt umb deine Gaben /
Doch wisse daß ich dich viel lieber selbst wil haben.
Drumb gieb mir was du wilt / es sey auch ewges Leben:
Giebstu mir dich nicht selbst / so hastu nichts gegeben. 
(C.W., 4:30. GOtt über alle Gaben.)

Ao chamar-nos a olhar Deus como Pai, Ele irmana-nos conSigo e uns com os outros; não, porém, segundo o modelo da família humana, tantas vezes fonte e campo de desentendimento e conflito (como Ele próprio o apontou), mas como comunidade daqueles que escolhem o caminho da perfeição a que são chamados. A comunidade dos filhos de Deus não se institui, acontece: «onde estiverem dois ou três reunidos em Meu nome». Reunidos, no sentido etimológico do termo, unidos na relação de cada um com Ele pelo Espírito Santo.

Trata-se de uma relação de amor, um amor que irrompe da relação e a sustenta, de onde Ele ser verdadeiramente o Caminho que, pelo amor, do amor ao amor conduz. A via das concepções de Deus, mesmo a que pretende passar além delas, delas se libertando («toda a Ciência transcendendo») ficará sempre incomensuravelmente aquém da via experiencial deste amor.